Em uma metrópole que cresceu sem o planejamento adequado, como São Paulo, a implantação de alternativas sustentáveis para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos representa um desafio muitas vezes encarado como impossível. É inevitável, por vezes, desejar derrubar tudo e construir a cidade novamente, só que de forma planejada. Apesar dos erros que se apresentam em todos os cantos e esquinas, nossas energias devem ser canalizadas na tentativa de arregaçar as mangas e remediar o que está feito, preservando o bom da nossa história e cultura, mas ao mesmo tempo abrindo espaço para mudanças de paradigmas e comportamentos que resultarão na transformação criativa do ambiente urbano. Diferenças geográficas e culturais a parte, diversas cidades pelo mundo também nos brindam com inúmeros exemplos de boas iniciativas, e a escolhida para cumprir esse papel dessa vez é Nova York. Assim como São Paulo, Nova York é uma gigante repleta de concreto e espigões, mas que se bem explorada nos mostra bons exemplos com grande potencial de aplicabilidade em outras cidades, como São Paulo, desde que adaptadas, é claro, às condições físico-culturais locais.
Esse texto se restringirá a Manhattan, a ilha que concentra a maior densidade populacional da cidade de Nova York e onde tudo acontece. Iniciemos então falando do óbvio, os parques e áreas verdes da Big Apple. O mais notório, todos sabem, é o Central Park, o imenso parque localizado no centro da ilha e, por isso, tido como o coração verde de Manhattan. Sua dimensão, de 3,4km², é duas vezes maior que a do Parque Ibirapuera, seu equivalente paulistano. Se o centro da cidade é verde, assim também é parte do seu perímetro. O Hudson River Park e Riverside Park, a oeste, o Battery Park e o Brooklin Bridge Park, ao sul, e o East River Park, a leste, contornam a ilha espremidos entre as grandes avenidas e as águas do estuário do rio Hudson. Funcionam como o que chamamos aqui no Brasil de “parques lineares”, e proporcionam áreas de lazer, esportes e contemplação para a população. Inevitável não imaginar como melhoraria a qualidade ambiental de São Paulo e a vida dos paulistanos se esses parques fossem implantados nas margens dos rios Tietê e Pinheiros e nas represas Billings e Guarapiranga. Além desses parques, Nova York possui praças como a Madison Square Park, ao sul, e belas áreas verdes como o Jardim Botânico, ao norte.
Porém, o que quero destacar aqui são duas ações incríveis que servem de exemplo para qualquer cidade caótica do mundo. Comecemos falando da High Line, o parque instalado sobre uma linha férrea suspensa que cortava os bairros de Chelsea e Meatpacking District e que foi desativada em 1980. Após anos de abandono, moradores da região iniciaram um movimento, abraçado pelo poder público, que, a partir de 2000, iniciou o projeto de transformação da via elevada em área para uso público. Após o município ter adquirido a linha férrea da empresa CSX Transportations e ter selecionado projetos de arquitetura e design, finalmente a High Line foi implantada e inaugurada em 2009. Atualmente, se estende por 24 quadras, entre a West 10th Street e a 34th. Constitui-se por passeios calçados cercados por lindos canteiros de flores e folhagens, com áreas de descanso e alimentação, transformando-se em um oásis urbano. Imagine a diferença para os moradores que avistavam a via férrea das suas janelas e hoje apreciam um belíssimo jardim suspenso! Inevitável não pensar no Minhocão de São Paulo (Elevado Costa e Silva). Seria uma alternativa para aquela ode ao mau gosto, não?
Por fim, um outro grande exemplo. Em vários pontos da cidade, em especial nos bairros de East Village e Lower East Side (esse de origem operária e imigrante), moradores ocuparam terrenos baldios e os transformaram em verdadeiros jardins comunitários. Possuem usos múltiplos de acordo com os desejos e necessidades dos moradores responsáveis por sua manutenção, podendo possuir jardins, hortas, fontes de água, árvores, áreas de descanso, mesas e bancos para refeição, etc. Na Europa isso é muito comum, assim como em outras localidades dos Estados Unidos. Aqui no Brasil é mais incipiente, mas já existem ações nesse sentido. Essas iniciativas serão tratadas em posts futuros. Por hora, uso os jardins comunitários nova-iorquinos como bons exemplos de uso comum do espaço público, onde os moradores locais são responsáveis pela manutenção voluntária dessas áreas verdes antes abandonadas, auxiliados e respaldados pelo município através do Green Thumb. São mais de 500 jardins espalhados pela cidade, promovendo a qualidade de vida, a biodiversidade urbana e a coesão social. Um bom exemplo não?
Essa viagem merece ser feita,parabéns por esse lado pouco explorado pelas pessoas quando vão a uma cidade para conhecê-la e se acabam em compras e deixam de viver momentos únicos.Passeios assim dão a gostosa sensação de morar um pouco lá.
muito bonito o lugar mas se o parque fosse am terra firme seria ainda melhor.
Ótimo post. Serviu de inspiração para levar esse projeto a um grupo que busca melhorar nossa cidade. Espero que esse projeto siga em frente e se puder me ajudar nesse aspecto todos ganharam com isso.
Estarei as ordens!